sábado, outubro 22, 2005

Oráculo: Ópera do Tejo «reabre» a 3 de Novembro

Hoje, 22 Outubro de 2005, a edição Nº 1721 do jornal Expresso traz, no seu caderno Actual, um suplemento de 24 páginas (e, no seu caderno principal, dois textos na página 19) sobre a passagem, no próximo dia 1 de Novembro, dos 250 anos do Terramoto de Lisboa. E entre as muitas iniciativas previstas para assinalar essa efeméride que ali são referidas, uma há que, mais do que a minha participação, recebeu de mim o impulso inicial – é uma ideia, um projecto, que tive aquando da preparação do meu livro «Espíritos das Luzes»: a reconstituição virtual em computação gráfica de um dos mais extraordinários edifícios que já existiram em Portugal, e que, tal como outros, foi destruído por aquele grande cataclismo – o Teatro Real do Paço da Ribeira, ou, como ficou mais conhecido, a Ópera do Tejo.
A primeira apresentação desse trabalho de «reconstrução» vai ter lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no próximo dia 3 de Novembro, no segundo dia do colóquio internacional «O Grande Terramoto de Lisboa: Ficar Diferente», organizado pelo Centro de Estudos Comparatistas em colaboração com a FLUL e a Fundação Cidade de Lisboa. «A Nostalgia de um Património Desaparecido: Uma Obra Emblemática de Encomenda Régia na Lisboa do XVIII - A Real Ópera do Tejo» é o título da comunicação» é o título da comunicação que será lida por Alexandra Câmara. Especialista, docente e investigadora, historiadora da arte com obra publicada sobre os teatros em Portugal no século XVIII, ela será como que a «porta-voz» do grupo de trabalho que eu integro, e que conta ainda com Luís Sequeira e Silvana Moreira, da Associação Recreativa para a Computação e Informática, que procederam, com base nos materiais disponíveis, à modelação tridimensional do desaparecido teatro; e porque os testemunhos conhecidos que ficaram desse notável edifício não são muitos, a obra exibida será não uma reprodução rigorosa mas sim uma evocação que se pretende o mais aproximada possível.
A nossa equipa e o nosso trabalho estarão em foco, além de na imprensa, também na rádio e na televisão: a 27 de Outubro é emitida na TSF uma entrevista a Alexandra Câmara, uma entre várias feitas a diversas personalidades que abordam a grande tragédia do Dia de Todos os Santos de 1755; e em Dezembro, em dia a anunciar, o programa «Entre Nós», da responsabilidade da Universidade Aberta e transmitido na RTP 2, será inteiramente dedicado a... nós.

terça-feira, outubro 11, 2005

Orientação: Mais um artigo no Notícias de Alverca

A edição Nº 213 do jornal Notícias de Alverca, publicada hoje, 11 de Outubro de 2005, e disponível até 4 de Novembro, inclui, na sua página 6, o meu artigo «A fábrica foi um sonho». Comprem e leiam!

quarta-feira, outubro 05, 2005

Opinião: Datas marcadas

Em Portugal há dias feriados correspondentes a datas históricas que foram sendo completamente adulterados e pervertidos no seu significado.
No 1º de Dezembro é mais celebrada a luta contra a Sida do que a restauração da independência - o que, provavelmente, até convém para alguns, que preferem não «ofender» os «nuestros hermanos» e vizinhos espanhóis, eles que dominam cada vez mais a nossa economia, além de não nos devolverem Olivença… Honra seja feita, porém, ao Grupo de Amigos de Olivença, essa agremiação de valorosos patriotas que em 2001, contra a maré do conformismo derrotista, a indiferença e por vezes até a chacota dos que não «mexem uma palha» para defender a dignidade do seu país (mas que, pelos cargos que ocupam, deviam mexer), conquistaram, em tribunal, uma importante vitória, impedindo que a ponte velha daquela cidade portuguesa ocupada fosse «cedida» a Espanha - pelo (des)Governo português de então - para «restauro»…
25 de Abril? Um momento decisivo da nossa história recente que, de tão mal assinalado, parece hoje mais distante do que é. E o 10 de Junho? Justifica-se que o «dia nacional» seja o aniversário de uma morte (a do seu maior poeta, é verdade, mas, mesmo assim…) que coincide também com a perda da independência do país? Completamente desacreditada, esta data tem nas suas comemorações apenas um pretexto para se distribuírem algumas condecorações.
O 14 de Agosto não é feriado, mas provavelmente devia ser. Neste dia, em 1385, aconteceu a Batalha de Aljubarrota, que assegurou - pelo menos até 1580 - a independência de Portugal. Em 2001 não houve comemorações… porque o Exército não dispunha de dinheiro para as fazer. No entanto, mesmo que tivesse, seria difícil de concretizar algo de condigno, porque o campo onde ocorreu o glorioso recontro está hoje quase todo urbanizado… Esta data não deixou de ser, todavia, devidamente e duplamente «festejada» nesse ano: com a derrota por 0-2, em Setúbal, da selecção nacional de futebol de sub-21 face à sua congénere espanhola; e pela vitória de mais um ciclista do país vizinho na etapa daquele dia da Volta a Portugal em Bicicleta.
É no 5 de Outubro, contudo, que a mistificação é mais escandalosa. Neste dia, muito mais do que a implantação da República em 1910, deveria comemorar-se o reconhecimento da independência - a assinatura do Tratado de Zamora - em 1143. Não são muitos os portugueses que sabem deste acontecimento, e a entrega nas escolas, em 2000, do chamado «kit patriótico», foi mais um contributo dos republicanos para a continuação, e até para o aumento, dessa ignorância. O pressuposto - isto é, a mentira - central dessa (tentativa de) lavagem cerebral nacional foi que a História de Portugal só começou, verdadeiramente, com a República.
A minha filha mais velha, que frequentava então o primeiro ano do ciclo básico, foi uma das muitas crianças que, quais potenciais criminosas, receberam nas suas escolas a «visita» da Guarda Nacional... Republicana para aprenderem «a identidade, os valores e os símbolos nacionais.» À noite, eu, como pai responsável que tento ser, expliquei-lhe que a Pátria é muito grande, não cabe numa caixa, não se reduz a alguns autocolantes, brochuras e discos, já teve outros hinos e bandeiras, e tem uma história muito antiga, em que aconteceram muitas coisas, umas boas, outras menos boas. E houve um rei e um príncipe - um pai e o seu filho - que foram mortos, assassinados, pelos antecedentes dos que hoje nos (des)governam. Na verdade, com a República a nossa história tem sido tudo menos um conto de fadas.
O «kit patriótico» foi uma iniciativa não só anacrónica e ridícula mas também, e principalmente, inútil e hipócrita. Inútil, porque os portugueses, e em especial os jovens, não precisam de caixas para envergarem as cores da bandeira e entoarem os sons do hino. Eles tiveram uma grande oportunidade para tal no Campeonato da Europa de Futebol de 2000 - sim, as grandes jogadas dos nossos rapazes (cada um deles era uma autêntica bandeira!) não foram só um «hino ao futebol» - mas não nos Jogos Olímpicos do mesmo ano (o que, recorde-se, não preocupou António Guterres, que afirmou que as medalhas não eram importantes…) nem no Campeonato do Mundo de Futebol de 2002… Hipócrita, porque partiu de pessoas que se têm notabilizado precisamente por enfraquecerem a coesão nacional, ao permitirem e incentivarem a integração (dissolução?) na União «Soviética» Europeia, onde, entre muitas outras normas absurdas dignas dos melhores planos quinquenais, são fixadas quotas máximas de produção de leite e multas para aqueles que as excederem.
Todos os portugueses, incluindo os mais novos, querem orgulhar-se do seu país. Esta é, porém, uma tarefa cada vez mais difícil, porque ele tem vindo a ser paulatinamente transformado numa grande anedota de mau gosto pelos praticantes da chamada «ética republicana». «Ética» que, comprovou-se definitivamente nos últimos anos, condiciona o interesse nacional e a transparência pública a benefícios duvidosos de grupos obscuros; que tem como «valores» a impunidade, a incompetência e a irresponsabilidade; que tem como lemas o «vale tudo», o «deixa andar» e o «a culpa morre solteira». «Ética republicana» que, enfim, provou ser um terreno fértil para a corrupção. Portugal é um dos países mais corruptos da Europa, e não somos nós que o afirmamos, mas sim diferentes organizações internacionais nos seus relatórios anuais e diversos comentadores nacionais nas suas colunas nos jornais. E comprova-se pelo aumento de detenções criminais e de processos nos tribunais…
Até agora, o crime tem compensado, mas talvez não por muito mais tempo. Farto de «pagar e calar», o povo está quase a perder a paciência. É algo que se ouve, se vê, se sente - e que não desapareceu com as mudanças (?) decorrentes das eleições autárquicas e legislativas. As «gotas» continuam a cair, o «copo» está quase a transbordar, e ainda vamos ver, quem sabe, alguns «vendidos» a serem «atirados» da janela abaixo.

Artigo publicado no jornal Vida Ribatejana, Nº 4225, 2003/4/30.

sábado, outubro 01, 2005

Obras: «Códigos»

O meu livro «Códigos» não é para ser lido mas sim para ser ouvido. É, de certa forma, para ser «oulido».
«Códigos» começou por ser – e ainda é – um passatempo. Uma experiência contínua. Que só se tornou possível com o advento do disco compacto. A digitalização da música, e em especial da sua reprodução, veio permitir – graças à função Program – que qualquer pessoa ouça discos pela ordem que quiser. Com o disco de vinil estávamos «prisioneiros» da sequência decidida pelos artistas e/ou pelas editoras. Agora não. Podemos adaptar cada disco à nossa sensibilidade, aos nossos desejos, à nossa criatividade.
O que está em causa no «reordenamento» das canções não são tanto as músicas mas sim as letras. Desde que comecei a ouvir discos «a sério» sempre prestei muita atenção às lyrics. Eu leio tudo, até a ficha técnica! Já na «era do vinil» pensava frequentemente – e ficava frustrado, porque nada podia fazer quanto a isso – que determinada canção estaria melhor junto a outra, que certa canção deveria abrir o álbum e outra deveria fechá-lo, ou vice-versa. Porquê? Porque, sem dúvida por influência dos livros e dos filmes, fui formando a ideia de que também os discos devem contar uma história com princípio, meio e fim. Por isso, assim que adquiri o meu primeiro leitor de CD’s comecei a procurar o livro que há em cada disco. E cada canção é como um capítulo. Eu sou também um escritor, um contador de histórias, e acredito que as palavras têm – devem ter - sempre primazia sobre a música, por mais bela e poderosa que ela seja. A meu ver, um tema musical totalmente instrumental é um tema desperdiçado. Nenhum som é mais importante, na comunicação, que a voz humana... e esta só se torna relevante e pode alcançar a plenitude quando tem mensagens para transmitir.
Subjectivo? Sem dúvida, muito. Mas, de certa forma, lógico. E atenção: não pretendo afirmar que a leitura que eu faço de cada disco é a única ou a melhor, longe disso! Existem tantas combinações quantas as permitidas pelo número de faixas de cada obra... e quantas as pessoas que estejam dispostas a empreender esta experiência.
No fundo, trata-se de fazer de cada álbum um concept-album. Quem nos diz a nós que cada artista (indivíduo ou grupo) não procurou dizer em cada disco - mesmo que inconscientemente, indirectamente – uma história? Afinal, não é cada álbum um reflexo e/ou um repositório das experiências, dos interesses, das sensações durante um dado período? Preocupados, muito provavelmente, em gerir cada trabalho de acordo com o padrão «tradicional» (alternância entre canções lentas e rápidas, ou entre canções «fortes» e «fracas»), os artistas possivelmente nem se apercebem da linha narrativa que está subjacente ao que fazem.
Que uma coisa fique clara: de maneira nenhuma o conteúdo do meu livro, bem como o método que esteve na sua origem, é um desrespeito aos artistas referidos e às suas obras. Muito pelo contrário. E limitei-me a fazer algo que a tecnologia me permite, mas que não é de certeza ilegal ou imoral como fazer downloads ou samples não autorizados.
Desde 1990 já ouvi, analisei e «codifiquei» mais de 500 discos. Caleidoscópio, não de cores, mas de canções, «Códigos» é menos um ensaio crítico – que também é, embora nada ortodoxo – e mais um «roteiro», um «guia» com sugestões de «viagens», de «percursos» pela música. Abaixo estão indicados dez desses percursos.

Alanis Morissette: Jagged Little Pill
» 4 » 8 « 3 » 12 « 1 » 11 « 7 « 5 « 2 » 13 « 9 » 10 « 6

Bjork: Homogenic
» 6 » 9 « 8 « 7 « 1 » 4 » 5 » 10 « 2 » 3

Cabeças No Ar: Cabeças No Ar
» 8 « 1 » 13 « 12 « 9 « 3 » 11 « 4 » 5 « 2 » 10 » 14 « 7 « 6

Daniela Mercury: Feijão Com Arroz
» 14 « 7 » 10 « 8 « 4 « 2 » 13 « 9 » 11 « 3 » 5 « 1 » 12 « 6 » 15

Nelly Furtado: Folklore
» 3 » 8 « 2 » 9 « 1 » 7 « 4 » 10 » 12 « 6 « 5 » 11

Prince: 1999
» 1 » 5 « 3 » 11 « 6 « 2 » 7 « 4 » 9 » 10 « 8

Queen: Innuendo
» 6 « 3 » 10 « 9 « 2 « 1 » 4 » 8 « 5 » 7 » 12 « 11

Radiohead: OK Computer
» 5 » 10 « 7 » 8 « 6 » 9 « 2 » 12 « 11 « 1 » 4 « 3

Tribalistas: Tribalistas
» 13 « 1 » 12 « 2 » 4 » 7 » 11 « 5 « 3 » 6 » 10 « 9 « 8

U2: The Joshua Tree
» 7 » 8 « 3 » 5 » 6 « 1 » 10 « 4 » 11 « 9 « 2


Hoje, 1 de Outubro de 2005, celebra-se o Dia Mundial da Música.